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Pavilhão Maxwell Alexandre 2

Entrega: one planet. one health

 

O segundo Pavilhão Maxwell Alexandre inaugura neste sábado, dia 29 de julho, na favela da Rocinha, comunidade onde o artista nasceu e foi criado. Na ocasião Maxwell Alexandre apresenta a série Entrega: one planet. one health. 

 

A nova série cria um olhar fictício sobre um grupo de estudantes uniformizados de escola pública, que trabalham como entregadores de alimentos, encontrando prematuramente seu destino social em um mercado de trabalho altamente complexo e desregulado. Cenas que se estendem por várias pinturas retratam a incursão dos alunos em uma série de eventos que levam à caça, espancamento, esquartejamento e devoração de Dino, um dinossauro verde que é o mascote da Danone. O pano de fundo dessa carnificina é o idílico Aterro do Flamengo, bairro onde Maxwell Alexandre reside atualmente, no Rio de Janeiro, construído sobre um aterro artificial, durante a era modernista do Brasil.

 

Entrega: one planet. one health foi lançada em Paris, no dia 9 de junho, no Cahiers d’Art, uma renomada instituição de arte e editora de livros. A exposição ocupou as duas galerias do espaço, que ficam na mesma rua, endereçadas no número 14 e 15 da rue du Dragon. Habituado a ocupar com trabalhos monumentais os grandes salões de museus e fundações, dessa vez Maxwell expõe suas obras nas duas galerias com menores proporções e, portanto, apresenta trabalhos mais intimistas. Uma produção nova de pequenas pinturas a óleo sobre tela tomam conta da exposição, junto de pinturas mais antigas feitas sobre portas que deram início a série ainda em 2022 durante a feira ArtRio. Os pequenos formatos, tão tradicionais na história da arte, marcaram uma mudança de conduta na prática do artista. No entanto, para o Pavilhão 2 na Rocinha, Maxwell volta ao não convencional, ao apresentar uma série de trabalhos utilizando novamente portas como suporte, mas aproveitando a superfície de maneira para criar uma trama de padrões colando embalagens do famoso achocolatado Toddynho, para só depois entrar com a tinta óleo para figurar as história da série. 

 

Tanto a Danone quanto o Toddynho, são marcas famosas, que com seus respectivos produtos principais, o iogurte e o achocolatado, ocuparam o imaginário das crianças com seus esforços de propaganda, gerando um fenômeno popular de desejo e consumo desses alimentos pelas crianças. Entretanto, esses produtos não eram acessíveis nas favelas, considerados supérfluos na dieta daquele contexto, as marcas se tornaram símbolos de valor, prosperidade e distinção social. Maxwell foi afetado por esse fenômeno, e hoje como um artista que tem a pintura como meio, o lugar onde tudo pode, o artista manipula essas marcas que são entidades poderosas, para propor uma vingança aos seus mascotes que na infância lhe causaram tanta frustração. Maxwell usa as cores, os slogans e logotipos, quer dizer, toda a identidade visual dessas instituições, para fazer um cruzamento entre elas e criar uma nova crônica onde os valores das marcas são subvertidos à sua vontade de vingança.

 

Um outro fenômeno, esse mais contemporâneo, soma-se a esse enredo: o serviço de entrega por aplicativos. E com isso novas marcas e valores surgem na trama, como as mochilas personalizadas da Ifood, UberEats e Rappi, feitas para acomodar os alimentos. E as bicicletas laranja da marca Itaú, muito utilizadas pelos entregadores como meio de transporte durante o serviço. Os entregadores são estudantes da escola pública e trabalham uniformizados, carregando também como marca, as cores do Estado e o logotipo da prefeitura do Rio no peito ao vestir uma camisa branca com duas listras horizontais azuis. A mitologia aborda momentos de conversa entre os meninos, descanso, descontração e alimentação, seja tomando Toddynho ou mordendo um pedaço de Dino. A interação com a polícia também aparece na série, mas marcada por um contraste da realidade carioca, uma vez que nas favelas a postura desses agentes do Estado é de opressão, enquanto no asfalto é de proteção. Na zona sul da cidade onde a trama se desenrola o comportamento dos policiais, que quase sempre aparecem entretidos com seus smartphones, é de indiferença e muitas vezes alheia a molecada, afinal de contas eles estão ali pra trabalhar, servir. 

Nas obras do Pavilhão 2 na Rocinha, a caça e o combate ao Dino é tratada como um ponto alto da série, é nesse momento onde a violência e a vingança frente ao desejo dos produtos das marcas se manifesta mais diretamente. O Dino é a carne, seu sangue é o próprio iogurte da Danone, os meninos caçam para se alimentar e entregar pedaços dessa criatura para os clientes na cidade. No entanto, a obra central da exposição "Entega: one planet. one health", é uma gravura em serigrafia com tiragem de 200, publicada e comercializada exclusivamente pelo prestigiado Cahiers d’Art. O múltiplo sintetiza a temática da série e está presente nas duas exposições, estabelecendo uma conexão direta entre as duas galerias, em Paris e na Rocinha. Além da gravura, o Cahiers d’Art lançará um livro da série.

 

O Pavilhão 2 fica localizado na Via Ápia, no número 9, onde antes abrigava uma das unidades do Subway. O espaço é muito generoso e remete, pelo seu tamanho e propriedades físicas, às galerias do Cahiers d’Art em Paris. A via Ápia é o coração comercial da Rocinha, uma das ruas mais importantes e movimentadas da favela, por ser a ligação central do asfalto com o morro. O ponto é bem disputado pelos negócios tanto dos moradores quanto de empreendedores de fora da comunidade, que veem na Rocinha uma potência cultural e comercial. 

 

É correto afirmar que o Pavilhão 2 se configura como a primeira galeria de arte contemporânea da favela, com entrada gratuita, onde espera-se, pelo menos, o mesmo fluxo de visitação do 1˚ Pavilhão em São Cristóvão que levou mais de 6 mil visitantes ao espaço no período de 3 meses. 

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